A pedagoga e supervisora pedagógica da FAESA, Cláudia Freitas publicou um artigo no jornal A Gazeta sobre o Dia Nacional dos Surdos. No decorrer do texto a pedagoga afirma que o estigma de incapacidade, da surdez e dos surdos, não encontra-se nos indivíduos, mas sim na falta de inclusão por parte da sociedade.
Confira o artigo na íntegra retirado do site A Gazeta:
A pessoa surda: um estrangeiro dentro do próprio país
Baseado no decreto 5.626/2005, consideramos pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, entende e participa do mundo por experiências visuais, revelando sua cultura por meio da língua brasileira de sinais - Libras. No dia 26 de setembro comemora-se o Dia do Surdo. Muitas pessoas podem se questionar: comemorar? Comemorar por não ouvir?
O Dia do Surdo é justamente sobre isso. Um dia no ano, assim como outras datas importantes, para celebrar a diversidade e oportunizar espaços, como este artigo, para informar a realidade de outras pessoas que muitas vezes não estão em nosso círculo de relacionamento.
Será que a comunidade surda se sente incapaz e fragilizada pelo fato de não ouvir? Saiba que não. Afinal, a limitação não está na pessoa e sim na falta de inclusão nos espaços e mentalidade da sociedade.
Ocorre que ainda vivenciamos uma sociedade que foca na patologização do sujeito surdo, ou seja, são difundidos estigmas de incapacidade sobre a surdez e os surdos, que destacam a limitação e não a potencialidade do ser humano. Enxergam a diferença como doença. Nomeamos esse fenômeno como capacitismo, ideias e ações que discriminam as pessoas que possuem deficiência.
Costumamos dizer que a pessoa surda é um estrangeiro dentro do seu próprio país. Quantos espaços possuem comunicação em Libras? Provavelmente, você se recordará que a tradução em Libras ocorre com veemência apenas nos programas eleitorais. A quem interessa, de fato?
Ao vermos em nosso cotidiano, infelizmente em pequena escala, a tradução em Libras, não fazemos ideia do quanto o povo surdo precisa lutar para ser incluído. A Libras foi reconhecida no Brasil apenas em 2002, por meio da Lei 10.436. Somente a partir desta data, alunos surdos tiveram a garantia de ter suas atividades escolares/acadêmicas traduzidas em sua língua.
Por se tratar de uma cultura, temos muito o que conhecer. Costumo me referir como “o universo surdo”. Um universo repleto de novidades. Destaco algumas questões do universo surdo:
- É incorreto dizer surdo-mudo, nos referimos como pessoa surda;
- Quem não é surdo é chamado de ouvinte;
- A maioria dos surdos não possui um entendimento claro do português escrito, pois sua língua materna é a Libras;
- Existem pessoas surdas que aprenderam a falar através das vibrações vocais e a entender o que falamos através da leitura labial;
- Cada país possui sua língua de sinais.
Mas há um ponto que antecede o conhecimento da cultura surda que precisamos destacar: a importância de nos colocarmos dispostos a nos relacionar com as diferenças.
É preciso reconhecer que há beleza na diferença. E, se pretendemos evoluir enquanto sociedade, é preciso desembaçar nossas lentes, exercer a empatia e promover reflexões em prol da diversidade e inclusão. Juntos, rompendo o capacitismo!